Thursday, August 31, 2006

Alguém tem que trabalhar...


"Olha essa bagunça... Alguém já arrumou a casa hoje!" Escuto essa frase todos os dias quando entro em casa e largo minhas coisas pela sala. Aquele costume que todo homem luta para preservar: chegar tirando o sapato (que fica alí mesmo, devidamente posicionado à porta), descansar a fatigada mala sobre o sofá (jogando a almofada no chão), depositar cuidadosamente a jaqueta debaixo da cadeira... e assim sucessivamente (quem é homem sabe). Fazemos isso de propósito, só para ouvir dos lábios mais doces esta sonora sentença. E depois dessa brincadeira, as sombrancelhas fransidas e o bico bravo se transformam no mais alegre sorriso. E ela vem correndo e pula num abraço dando risada. E pergunta: "Como foi seu dia?" Depois dessa ceninha, volto pelo mesmo percurso coletando cada um dos ítens da bagunça. Afinal, alguém tem que trabalhar nessa casa!

Pois é, dona Lilian, em um dia sai toda animada para aproveitar o sol de verão num Royal Park. Bonezinho na cabeça, protetor solar (FPS 30, mesmo em Londres!), garrafinha de água... e lá vamos nós, lá vamos nós, lá vamos nós... (para quem assistia Pica-Pau). Mas, algumas vezes, a roupa muda, o sol não aparece e o destino é outro: é dia de trabalhar. E lá se vai a dona Lilian com sua roupinha preta para mais um dia de serviço. "Será que hoje vai estar busy", ela se pergunta. Afinal, alguém tem que trabalhar nessa casa!

Talvez você esteja perguntando se "esse Guto não trabalha, não!?" Claro que trabalha! Às vezes, pra ser mais preciso. Quando o 1º dia do mês cai numa segunda-feira: eu trabaho. Quando a Lua, Terra e Marte estão alinhados: eu trabalho. Quando os sinos da St. Paul's tocam a terça maior do acorde do carrilhão de Westminster: eu trabalho. E, "at last, but not least", quando a Lilian manda: eu também trabalho. Pronto, estas são as regras. Esse ano eu já trabalhei uma vez! Acho que eu vou trabalhar de novo até o final do doutorado, mas aind
a não sei exatamente quando.

Esses dois ingleses aí ao lado são meus colegas de escritório. Durante um dos nossos dias de trabalho (afinal, eles também compartilham das minhas regras) eles me ensinaram a difícil arte de preparar uma especialidade britânica: o famoso Pimm's. Refrescante, saboroso e leve é a combinação perfeita para um churrasco de verão. Trata-se de um ponche chique ("posh", como se diz por aqui): mistura-se o tal do Pimm's com lemonade e frutas picadas. Aí é que está a parte mais interessante: além de morango, maçã, limão e hortelã, essa bebida também deve conter pepino. Isso mesmo, pepino! (E pepino é fruta!?)

Neste mesmo churrasco, como pagamento por esta insuperável aula de cultura britânica, ensinei os gringos a fazer banana assada com calda caramelada de canela com cachaça e sorvete de acompanhamento. No início, ouvi aqueles comentário de sempre: "Mas você vai colocar a banana assim direto na grelha?", "Não vai tirar a casca?", etc. Mas depois, quando a sobremesa estava suculenta no prato, foi só ver os olhinhos virando e as meninas brigando pela última que ficou na grelha. Tentei proibir as fotos, mas não consegui. Cultura culinária é assim: uns acham esquisito beber pepino, outros nunca assaram banana com casca. Resultado: todos comem, bebem, aprendem e saem falizes.

Mas, voltando a falar de trabalho, aí estou eu no túnel de vento ao lado de um modelo de Fórmula 1. Muitos dos meus colegas fazem pesquisa nesta área. É bem legal acompanhar a carreira deles, já que muitos acabam indo trabalhar na McLaren ou Ferrari. Os túneis de vento aqui são cheios de surpresas e modelos de carros esquisitos, sempre testando novas soluções para as próximas temporadas. Para quem ainda não sabe, eu trabalho no departamento de Aeronáutica do Imperial College. De novo você pergunta: "Mas você não é Engenheiro Naval e trabalhava com plataformas de petróleo?" Isso mesmo, e ainda trabalho. Qualquer dia eu explico como estou pesquisando as tubulações de petróleo num departamento de aeronáutica. Não se assuste, no final dá certo!

Além disso, o ambiente aqui é muito legal. Cercado por esses túneis de vento, modelos de aviões e carros de corrida. Tudo que sempre gostei. Nessa atmosfera, conseguimos tickets para visitar o Farnborough Air Show, a maior feira aerospacial por estas bandas. Passamos o dia olhando pra cima e curtindo as manobras e rasantes dos pilotos e as novas tecnologias das empresas. Muita coisa nova de última qualidade. Mas, pra variar, o que mais me impressionou foi ver o vôo em formação de um bombardeiro e seus dois Spitfires da Segunda Guerra. De arrepiar! Numa desta fotos dá pra ver a empenagem do gigante A380 (o maior avião da Airbus) que fez sua estréia no Reino Unido nesta feira. Na outra, com muito orgulho, apresento um dos aviões brasileiros que se destacaram no evento. Novamente a Embraer fez bonito e encantou a todos com seu Legacy.

Ufa... chega por hoje. Na foto lá de cima você conheceu a nossa amiga Henrietta McLeod. Ela não é a avó do Connor apesar de ter o nome e a idade (lembre-se que ele é imortal... hihihi). É uma escocesa de nossa igreja, muito falante e simpática, mas que já está esquecendo de tudo e de todos. E, por fim, dê só uma olhada nesse carrinho elétrico que encontrei dentro do Imperial. Isso mesmo, ele está se abastecendo numa tomada! Até breve, tenho que ir. Afinal, alguém tem que trabalhar nessa casa.

PS.: Agradeço à Sheilocas por ter me corrigido os nomes: Connor McLeod (o Highlander), não Conan (o Bárbaro). Thanks!

Various
Summer/2006
London

Wednesday, August 16, 2006

Verão!? Onde?...


O verão londrino é famoso por ser esquisito, inesperado e com gosto de "já acabou?". Os londoners ficam o ano todo se preparando para a chegada do verão. Programam viagens, arrumam o carro, o jardim, a casa e a cara! Fazem bronzeamento artificial ou compram cremes com pigmentos para dar aquela corzinha de última hora. Mas, quando o verão está pra chegar... ele já passou.

Em cada escritório, na última gaveta, tem uma sacolinha com o kit "verão de surpresa": uma toalha, um bom livro (homens) ou revista de famosos (mulheres), uma garrafinha de "squash", uma fruta, um protetor solar, sandálias havaianas (com bandeirinha brasileira), óculos, boné, viseira, frisbee e mais o que couber. A sacolinha fica lá, repousando o inverno inteiro só esperando a sua hora. De repente, quando menos se espera, bate um vento sudoeste e sobe uma onda de calor da corrente do golfo. Por entre as nuvens aparece um ponto luminoso que vai crescendo e se manisfesta com cor e calor. Imediatamente as gavetas se abrem e as sacolinhas pulam pra fora. O salto alto é esquecido debaixo da mesa e as secretárias, chefes, estagiárias atropelam-se nas escadas para se juntarem às aposentadas, donas de casa e mães (com seus carrinhos de bebê super-equipados), todas lutando por um lugar ao sol que não esteja úmido ou enlameado.

Ah, tudo fica diferente! Feche os olhos e imagine... Como é bom aproveitar o sol deitado na grama. Livro, frutas e bebidas a postos. O sanduíche do almoço pronto para ser devorado. Por debaixo do terninho já havia um biquini preparado, e a executiva rapidamente embola seu uniforme de trabalho num canto e se prepara para fritar lambusada de óleo bronzeador. Reparem que eu disse "se prepara"! Porque não há tempo suficiente. Não porque seu horário de almoço seja curto demais, afinal ela teria longos 60 minutos "to enjoy her lunch at the park". Mas porque o gracioso astro rei lembrou-se de um compromisso que havia marcado para aquecer as praias do Rio Grande do Norte e teve que se retirar de Londres.

No instante seguinte a corrente do golfo é vencida pela brisa nordeste (aquela que sopra do verão escandinavo de 5 ºC). Desanimada, ela desiste de competir nestas bandas e se recolhe para o caribe. A executiva nem teve tempo de comer seu almoço. Limpou o óleo bronzeador com a toalhinha (pra isso que ela serve), juntou suas revistas e frutas e voltou para seu salto-alto no escritório. Só lhe resta aproveitar o friozinho da tarde para tomar um capuccino no caminho para casa (antes que comece a chover).

Já vi esta história se repetir várias vezes. Afinal de contas, eu também estou sempre correndo para o parque. Só que me preocupo mais em comer meu lanche rapidinho pra bater uma pelada às quartas-feiras. Verão aqui é assim, quando vem, vem tarde ou cedo demais. Claro que eu já estou acostumado, morei em São Paulo a vida toda!

Exageros à parte, vamos aterrisar um pouco na realidade. Quem vem para Londres tem que conhecer os parques. Quem mora em Londres tem que aproveitar os parques! E isso nós temos feito muito bem. Nesta seqüência de fotos você viu: um pôr-do-sol no Hyde Park; a rainha Elizabeth II, no dia do seu 80º aniversário, passeando de carruagem antes de ir tomar chá lá em casa (repare a roupinha violeta dela); o Palácio de Buckingham visto do St. James's Park (repare a bandeirona hasteada informando que a rainha está em casa); uma vista tradicional de London com sua cabine telefônica na frente do parlemento (Big Ben é o sino dentro da torre, não o relógio); uma vista da estação de New Cross (onde moramos) num pôr-do-sol às 21:30 (isso mesmo, nove e meia da noite!); e , por último, apresento nossa nova amiguinha nos jardins dos fundos da LCPC.

Até a próxima... Tenho que parar de escrever agora... acho que vai abrir um solzinho em 10 segundos... Nossa! Tá abrindo... ai ai... Uau!... Ah... que bonito, passou, durou pouco, só 15 segundos desta vez. Epero que o de amanhã dure mais um pouquinho.

Summer
07-08/2006
London

Thursday, August 03, 2006

2006 FIFA World Cup...

Ai ai... estava adiando este post, mas agora não tem mais jeito. Melhor escrever sobre a Copa agora (enquanto tudo ainda está fresco na memória) do que ter que lembrar desses acontecimentos no futuro. Pois é, a Copa também passou por aqui, só que duas vezes mais arrasadora! Devastou a cidade inteira e destruiu multidões. Vamos contar como tudo começou... Nos primeiros jogos, apesar das dúvidas, ainda tínhamos aquela esperança de que o time ainda poderia melhorar durante o torneio: mera ilusão. A foto lá em cima mostra como foi fácil transformar uma casa peruana no centro da torcida brasileira em Londres: foi-se a Croácia.

No próximo jogo o encanto ainda estava longe. Claro, é de se esperar que o melhor jogador em campo seja o Ronaldinho Gaúcho e não o bravo zagueiro Lúcio! Mas tudo bem, o jogo não agradou mas o churrasco com os brasileiros estava muito bom (adeus Japão e Austrália). Nos divertimos muito e conhecemos bons novos amigos. Até que a Mimi estava bem confiante, mas o joven Tiaguinho já sabia qual seria o saldo dessa Copa, sua primeira Copa... A disputa trouxe os leões de Gana na seqüência. Mais brasileiros para a festa, novos amigos, um bom resultado, mas sem convencer ninguém. Gana se foi, mas o Parreira continuou.

Mas o pior ainda estava por vir... e veio em dose dupla. Apesar de torcermos para Portugal, fomos assitir ao jogo England x Portugal em um pub perto de casa. Queríamos assistir pelo menos um jogo da Inglaterra no meio dos ingleses, para sentir como é a torcida por aqui. Ainda bem que fomos neste jogo, porque não haveria uma outra oportunidade. Depois de ver a derrota dos nossos amigos ingleses, saímos do pub comemorando e imaginando como seria o próximo jogo Brasil x Portugal como toda a cidade torcendo pelo nosso lado... só imaginamos. No mesmo dia tivemos a desilusão. Fomos assistir Brasil x France no meio de uma multidão de brasileros em Leicester Square. O resto vocês já conseguem imaginar, não preciso escrever essa parte.

Depois tivemos que torcer para nossos queridos portugueses e ver sua sofrida eliminação para a França. No jogo Alemanha x Itália, fomos acompanhar nossos amigos alemães (e nossa única amiga italiana) em um restaurante perto do Imperial College. Com tantas misturas de nacionalidades a melhor coisa foi a comida belga... Veja a alegria dos nossos três amigos ingleses quando o assunto "futebol" voltou para a mesa. Na outra foto você vê o grupo de perderores dando as boas-vindas para os recém chegados alemães: já estavam lá os espanhóis, ingleses e brasileiros (a Natalie também estava no meio, mas é bielo-russa).

Pelo menos a Itália foi um consolo. Fomos assitir a final na casa de Lulu e Simon, outro amigo italiano, e finalmente comemoramos alguma coisa! Foi só gritar "Eh Eh, Chi non salta un Francese è!". E o lado Penna da Lilian chorava de alegria! Resultado dessa Copa: brasileiros e ingleses, ambos decepcionados com seus times, mas comemorando fervorosamente a derrota da França! Que venha a Copa de 2010! Esperemos que o Dunga faça alguma coisa... hehe. Ah, estava quase me esquecendo... Como não poderia faltar, esse jantar da última foto foi especialmente preparado para comemorar a eliminação da Argentina.

07/2006
FIFA World Cup
London